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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Conheça a relação entre hackers e a ‘engenharia social’


Quando hackers aparecem na ficção, normalmente eles são retratados como conhecedores da área de informática, que usam apenas falhas em sistemas para conseguir realizar uma invasão, o roubo de dados ou a destruição de um sistema. O hacker norte-americano Kevin Mitnick, que chegou a ser condenado por crimes de informática, conseguiu muita coisa manipulando pessoas – e não bits.
No livro que publicou em 2002, “A Arte de Enganar”, Mitnick revela que boa parte das invasões que realizou só foi possível porque ele enganava pessoas para que lhe dessem as senhas dos sistemas. Com as senhas na mão, bastava “entrar pela porta da frente”.
Até hoje, em muitos casos, os roubos de internet não acontecem devido a alguma técnica sofisticada dos criminosos, mas sim por falha da própria vítima.
Um grande exemplo são as fraudes bancárias brasileiras que ocorrem pela internet. Quase todas começam com uma mensagem de e-mail que convence a vítima de alguma mentira – como uma investigação policial, uma mensagem especial, uma declaração de amor ou mesmo uma solicitação falsa do próprio banco. Quando a vítima cai e clica no link oferecido, fazendo normalmente o download do software, ela estará infectada com um ladrão de senhas bancárias.
Não é necessária, de modo geral, nenhuma técnica avançada de informática. Apenas o envio de uma mensagem falsa para milhares (ou milhões) de possíveis vítimas para que algumas dessem voluntariamente – embora sem saber – cedam o controle do computador aos hackers.
É claro que alguns golpes fazem, sim, uso de técnicas mais sofisticadas. Mas muitas fraudes têm sucesso mesmo explorando apenas o ser humano.
O conjunto de técnicas para manipular o ser humano é chamado de “engenharia social” no campo de segurança da informação.
Uma reportagem do “Bom Dia São Paulo” do início de abril mostra como um golpe de engenharia social pode ser aplicado sem envolver computadores. Um grupo de mulheres alterava caixas eletrônicos para que o cartão da vítima ficasse preso. Uma das envolvidas fornecia panfletos informativos com o número de telefone do banco falsificado.
Quando o cliente ligava para “o banco”, acabava cedendo todas as informações da conta para outra pessoa do grupo. Em seguida, os dados eram usados para roubar o dinheiro da conta.
Outro golpe já clássico no Brasil e que mesmo assim continua acontecendo é o do bilhete premiado. Um golpista alega que tem um bilhete premiado e que não poderá retirar o prêmio, oferecendo-o à vítima – normalmente idosos. Há variações do golpe, e algumas fontes, segundo o site Monitor das Fraudes, indica que esse golpe é realizado no Brasil desde 1940.
O golpe do bilhete premiado foi adaptado para o prêmio da falsa promoção, em que a vítima recebe um SMS ou um e-mail comunicando que ela foi sorteada para receber algo. O golpista normalmente exige que a vítima pague algum valor adiantado – como o frete – para poder receber o prêmio. Claro, o prêmio nunca chega.
A fraude do falso sequestro – em que o golpista afirma ter sequestrado alguém da família, fingindo todo o episódio – é outro exemplo.
Combinadas com a internet, essas fraudes podem ficar ainda mais elaboradas. Por exemplo, se alguém descobrir o seu nome e perfil no Facebook, a próxima ligação fingindo ser um falso sequestro poderá ter muitas outras informações para que o golpe pareça mais real.
Em 2009, Dmitry Bestuzhev, especialista da fabricante de antivírus Kaspersky Lab, explicou ao G1 que o criminoso brasileiro compensava as técnicas rudimentares com a lábia, quer dizer, com a engenharia social. Desde então, os hackers brasileiros melhoraram bastante tecnicamente. Mesmo assim, as técnicas de engenharia social continuam como pilares do crime virtual brasileiro.
Não existe uma dica para evitar a engenharia social. É preciso pensar como o criminoso: estou fornecendo alguma informação que pode ser usada contra mim? Estou, talvez, seguindo um link ou uma instrução que pode me prejudicar? Como ter certeza que a informação é realmente correta – como no caso do número de telefone nos panfletos falsos do banco?
Não existe solução técnica para engenharia social. É realmente preciso ter noção dos riscos de cada atitude e tentar confirmar a autenticidade de tudo – seja de um bilhete, de um torpedo promocional, de um e-mail, de um panfleto ou de uma chamada telefônica. Como será possível confirmar essa autenticidade dependerá das ferramentas e informações disponíveis. Mas, sabendo dos riscos de ser enganado, pender para a dúvida e desconfiar pode não ser uma má ideia.

FONTE: G1

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